Nota de Abertura

 

Estamos em pleno mês de Novembro. Mês  que a tradição da Igreja dedica, particularmente, à comunhão com os Fiéis Defuntos. Aqueles que nos precederam na vida e na fé e que o Senhor já chamou à Sua divina presença

Que costumamos fazer pelos nossos defuntos? Algumas coisas que com certeza devem ser úteis para eles e para nós e outras que são totalmente inúteis ou supérfluas, pelo menos para eles.

Costumamos chorar. A dor natural da separação arranca lágrimas dos nossos olhos, porque as lágrimas são o sinal sensível da nossa dor e do nosso amor.

Costumamos oferecer flores aos defuntos. As flores são sobretudo um símbolo. Manifestamos o nosso respeito e o nosso amor a uma pessoa enviando-lhe um ramo de flores. A mesma coisa fazemos com os defuntos. No entanto, a única coisa de que dão testemunho é da fugacidade da existência humana, que se dissipa como uma flor e da caducidade da vida sobre a terra. Pois, como diz S. Agostinho elas são mais uma consolação dos vivos do que utilidade dos defuntos. Sejamos moderados nestas expressões e evitemos os exageros. Antigamente chamavam-se os pobres para que acompanhassem o defunto; e depois dava-se lhe de comer; os pobres são a melhor coroa dum defunto cristão. Hoje pode-se, igualmente, ajudar as pessoas  necessitadas e as instituições que os acolhem. sufragando os defuntos.

Pelo ensinamento de Jesus, há um modo cristão de “contemplar” a morte, como entrada na vida verdadeira, como passagem para a eternidade, como tomada de posse da felicidade que nunca terá fim. Não há mortos. Todos estamos vivos. Uns ainda nesta vida terrena, comendo, bebendo, trabalhando, sofrendo , alegrando-se, etc.. Outros, verdadeiramente vivos, do outro lado da morte, que é passagem para a eternidade sem fim. Vivos em Deus. Foi para essa vida que todos nascemos. Somos homens e mulheres para a eternidade.

Há um modo cristão de nos colocarmos perante e a morte. Não pode ser de tristeza mórbida mesmo que seja de muita saudade e de muita dor. Não pode ser de uma maneira tal que parece que não temos fé na vida eterna, como se não acreditássemos que os que partiram do meio de nós, os defuntos, estão vivos em Deus.

Eles precisam muito da nossa solidariedade e da nossa caridade mais do que das nossas lágrimas ou das nossas flores. Precisam mais das nossas orações e dos nossos sufrágios do que dos arranjos sofisticados e dispendiosos nos funerais ou junto das campas..

Dá pena ver as igrejas cheias de gente nos funerais e nas missas pelos defuntos e tão poucos, por vezes , se abeiram da mesa Eucarística para receber o Corpo do Senhor, Aquele Jesus que é a Ressurreição e a Vida, Aquele que disse: “Quem me come não morrerá jamais”, oferecendo a comunhão em sufrágio de quem partiu..

 Precisamos todos duma fé mais adulta, duma consciência cristã mais esclarecida e mais amadurecida. Precisamos de ir ao essencial, de nos agarrarmos ao quem não murcha e não envelhece.

As melhores flores a oferecer pelos defuntos são as nossas orações, as nossas Eucaristias e os nossos actos de caridade. São esses pequenos tesouros que os nossos irmãos e irmãs que já partiram deste mundo necessitam. E o amor que temos por eles deve levar-nos a esta “conversão”.

É bela e conhecida a frase de S. Agostinho: “ Uma flor sobre a campa murcha, uma lágrima sobre a terra evapora-se; mas uma oração pela sua alma tem acolhimento em Deus”.

O Pároco